Agora nada farei além de ouvir,
Para acrescer o que ouço aos meus cantos, para deixar 
  que os sons contribuam em sua direção.
Eu ouço o talento dos pássaros, o alvoroço do trigo que cresce, 
  a fofoca das chamas, os estalos dos gravetos 
  cozinhando minhas refeições,
Eu ouço o som que amo, o som da voz humana,
Eu ouço todos os sons se propagando juntos, combinados, 
  fundidos ou em seqüência,
Sons da cidade e sons fora da cidade, sons do dia e da noite,
Jovens faladores com os que deles gostam, a risada estridente 
  dos trabalhadores durante as refeições,
A base irritada da amizade desfeita, os tons débeis dos doentes,
O juiz com as mãos presas à mesa, seus lábios pálidos 
  pronunciando uma sentença de morte,
Os altos brados dos estivadores descarregando os navios no cais, 
  o refrão dos levantadores de âncora,
O toque dos alarmes, o grito de "fogo!", o ronco dos motores rápidos 
  e do carro com mangueiras e tinidos premonitórios e luzes coloridas.
O apito a vapor, o rolamento sólido do trem que vem chegando,
A marcha lenta tocada à frente da associação, marchando dois a dois,
(Eles vão recolher alguns corpos, o topo das bandeiras drapejado 
  com musselina negra).
Ouço o violoncelo (é o lamento do coração do rapaz),
Ouço a corneta de teclado que desliza rapidamente pelos meus ouvidos,
Ela causa uma agonia louca e doce que atravessa minhas entranhas e meu peito.
Ouço o coro, é a grande ópera,
Ah, isso sim é música! — isso se casa comigo.
Um tenor grande e novo como a criação me preenche,
O céu esférico de sua boca está jorrando em mim e me realizando.
Ouço a soprano virtuosa (o que é este trabalho quando comparado ao dela?)
A orquestra me faz rodopiar numa órbita mais larga que a do vôo de Urano,
Faz surgir em mim tais ardores que não imaginava possuir,
Ela me faz navegar, mergulho meus pés descalços, 
  eles são lambidos pelas ondas indolentes,
Sou cortado por um granizo amargo e irado, perco o fôlego,
Macerado por melíflua morfina, minha traquéia sufocada em farsas da morte,
Ao fim, solto-me uma vez mais para sentir o enigma dos enigmas,
E aquilo que chamamos Ser.